sexta-feira, 30 de abril de 2010

COISAS DO CORAÇÃO

Já houve um tempo em que o coração era considerado o centro administrativo de todo o ser, tanto de suas emoções e inclinações morais quanto de seus pensamentos e atividades intelectuais. Alguns chamam essa “era do coração” de cardiocêntrica.
Os tempos passaram e os conceitos sobre as coisas do mundo e nossa relação com elas também mudou. Em meados do século XVII, William Harvey revoluciona a concepção adquirida do coração, afirmando que o mesmo não tem outra função, senão, bombear sangue, através das artérias, para todo o corpo. Desde então, mesmo ainda sendo considerado um órgão vital, o coração perdeu seu reinado para o cérebro, que assumiu, principalmente na Modernidade, o centro de comando ideal do agir humano, determinado, agora, pela razão e não mais pela emoção fosca da mística medieval. É a tão almejada supremacia da razão sobre a emoção que nos colocou numa nova era que poderíamos chamar de cefalocêntrica.
Hoje, em nossa multifacetada pós-modernidade, já constatamos as luzes da razão não são tão brilhantes e que a mística emotiva dos corações religiosos têm algo a dizer sobre o mundo e a nossa relação com ele. Parece que a descoberta foi essa: todos temos cérebro, mas também coração. Pensamos e sentimos enquanto existimos. Sobrepor uma dessas condições humanas à outra, seria, no limite, deixar de existir no mundo e na interação com ele e as outras pessoas.
Temos um coração, que centralizada todo nosso ser e determina nossas paixões, inclinações, impulso, valores. E não me refiro ao órgão biomecânico que carregamos no peito, mas a uma coisa de natureza espiritual (metafísica, para os filósofos) que a Bíblia Sagrada recomenda guardar com cuidado para não se perder a própria vida: “Guarda o teu coração acima de tudo, porque dele provém a vida” (Provérbios 4.23).
Nestes próximos domingos de Abril, começando hoje, as reflexões serão sobre o coração. Tenho a esperança de encontrar na Palavra de Deus os caminhos para cuidar do nosso coração, para protegê-lo do mal e para fazer dele a morada do Senhor Jesus.

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