sexta-feira, 30 de abril de 2010

COISAS DO CORAÇÃO - III

Nós temos um coração que nos mantém vivos. Usar bem o coração, aderindo a novos hábitos mais saudáveis, permite que este órgão biomecânico continue funcionando, distribuindo sangue por todo o corpo, mantendo-o vivo e saudável.
Ter um coração é ter uma existência; e existir é relacionar-se com o mundo (as coisas e as pessoas) no qual existimos. E assim como acontece com o coração, a qualidade da nossa existência no mundo também está ameaçada por hábitos relacionais ruins. Mudar estes maus hábitos é necessário para salvar nossa vida do perigo de existir no mundo como um objeto, sem coração, e fazendo das pessoas ao nosso redor também objetos.
A prática dessa inversão diabólica (pessoas/objetos x objetos/pessoas) em nossos relacionamentos é um forte indício do quanto Deus está distante do nosso coração, do nosso modo de existir. E se a Bíblia estiver correta ao afirmar que Deus não habita mais em templos feitos por mãos de homens e que cada crente é templo/morada do Espírito Santo, somos forçados a admitir que em muitos momentos de nossa vida Deus fica desabrigado. Essa é a má e triste notícia. A boa e esperançosa notícia é que é possível dar a Deus um novo lar. E o endereço dessa graciosa casa é VOCÊ.
Jesus disse que está à porta, batendo e esperando que você ofereça a ele uma nova casa, um novo lar. E aqueles que têm Jesus morando em seu coração, têm um novo modo de existir no mundo e de se relacionar com ele. Primeiro, porque sua mente, sua reflexão sobre o mundo é diferente. Agimos mal porque pensamos mal e mudamos pouco porque refletimos pouco. Ter Jesus no coração é também usar a cabeça para gerenciar conflitos de forma inteligente e responsável.
Segundo, porque seus sentimentos, suas emoções são diferentemente administradas. Compreender o potencial construtivo e destrutivo de nossas emoções e sentimentos nos ajuda a com-viver melhor com as pessoas. Ter Jesus no coração é também sentir com o mundo, interagir com sua dinâmica de dor e alegria, perda e ganho, ida e volta, lágrima e riso, morte e nascimento, fim e recomeço, fome e partilha. É interagindo que experimentamos com-paixão.
Terceiro, porque seu comportamento, sua maneira de relacionar-se condiz com a maneira como Deus se relaciona com ele. O antigo ditado “quem com ferro fere, com ferro será ferido”, agora, com Jesus no coração, fica assim: “quem com ferro me fere, com amor, perdão, graça e misericórdia será tratado”. Quando isso parecer difícil lembre que “não mais eu, mas Cristo vive em mim”.

COISAS DO CORAÇÃO - II

A descoberta da semana passada foi simples, mas preciosa para a qualidade de nossa relação com Deus, com as pessoas e conosco também. Descobrimos (ou lembramos) que temos um coração, por isso existimos no mundo e nos relacionamos com ele. Saber usar este coração e existir no mundo amando as pessoas que também têm coração e existem no mesmo mundo que nós, foi o desafio lançado no primeiro momento em que refletimos sobre o coração. Hoje, já cientes que temos um coração, que existimos no mundo, refletiremos sobre os perigos que corre nosso coração e os males que comprometem a qualidade de nossa existência.
O órgão biomecânico que carregamos no peito é responsável pela circulação do sangue por todo o corpo, mantendo-o, assim, vivo e em bom funcionamento. Os percalços no trajeto desse sistema circulatório podem ser chamados de doenças cardíacas, pois afetam diretamente o bom funcionamento do coração, do sistema circulatório e demais órgãos, uma vez que lhes falta a oxigenação necessária. Algumas dessas enfermidades são a hipertensão arterial, angina, isquemia cardíaca, infarto do miocárdio, arritmia cardíaca, doenças dos vasos sangüíneos, insuficiência cardíaca congestiva, etc. As doenças cardíacas ainda podem ser congênitas, quando já nascemos com anomalias no aparelho cardiovascular, ou adquiridas através do nosso estilo de vida autodestrutivo com altos índices de sedentarismo, colesterol e estresse.
Contudo, parece haver possibilidade de melhor qualidade de vida cardíaca para todos nós. Para os portadores de doenças congênitas, existem modernas cirurgias de correção e medicamentos apropriados. Para os portadores de doenças adquiridas, o receituário médico é simples: mude seus hábitos! E todos os profissionais de saúde são unânimes na recomendação da prática de exercícios físicos regulares e melhoria na alimentação e na qualidade das relações interpessoais.
O Sábio bíblico nos recomenda “guardar o coração acima de tudo, porque dele provém a vida” (Pv 4.23). Talvez, uma paráfrase adequada do antigo provérbio seria: o teu coração está em perigo; cuide dele.
Se as mudanças em nossos hábitos cotidianos trazem saúde ao nosso coração, as mudanças em nossos hábitos também trazem saúde à nossa existência. Para tanto, segue um conselho: mude seus hábitos espirituais. Pratique exercícios de amor, perdão e tolerância. Se alimente com boa literatura, boa música e boas amizades. Dê graças por tudo. Chore sempre que necessário. Ria da vida e de si mesmo. Não prolifere a fofoca, a mentira e a maldade. Divida tudo - o pão, a dor, a alegria.

COISAS DO CORAÇÃO

Já houve um tempo em que o coração era considerado o centro administrativo de todo o ser, tanto de suas emoções e inclinações morais quanto de seus pensamentos e atividades intelectuais. Alguns chamam essa “era do coração” de cardiocêntrica.
Os tempos passaram e os conceitos sobre as coisas do mundo e nossa relação com elas também mudou. Em meados do século XVII, William Harvey revoluciona a concepção adquirida do coração, afirmando que o mesmo não tem outra função, senão, bombear sangue, através das artérias, para todo o corpo. Desde então, mesmo ainda sendo considerado um órgão vital, o coração perdeu seu reinado para o cérebro, que assumiu, principalmente na Modernidade, o centro de comando ideal do agir humano, determinado, agora, pela razão e não mais pela emoção fosca da mística medieval. É a tão almejada supremacia da razão sobre a emoção que nos colocou numa nova era que poderíamos chamar de cefalocêntrica.
Hoje, em nossa multifacetada pós-modernidade, já constatamos as luzes da razão não são tão brilhantes e que a mística emotiva dos corações religiosos têm algo a dizer sobre o mundo e a nossa relação com ele. Parece que a descoberta foi essa: todos temos cérebro, mas também coração. Pensamos e sentimos enquanto existimos. Sobrepor uma dessas condições humanas à outra, seria, no limite, deixar de existir no mundo e na interação com ele e as outras pessoas.
Temos um coração, que centralizada todo nosso ser e determina nossas paixões, inclinações, impulso, valores. E não me refiro ao órgão biomecânico que carregamos no peito, mas a uma coisa de natureza espiritual (metafísica, para os filósofos) que a Bíblia Sagrada recomenda guardar com cuidado para não se perder a própria vida: “Guarda o teu coração acima de tudo, porque dele provém a vida” (Provérbios 4.23).
Nestes próximos domingos de Abril, começando hoje, as reflexões serão sobre o coração. Tenho a esperança de encontrar na Palavra de Deus os caminhos para cuidar do nosso coração, para protegê-lo do mal e para fazer dele a morada do Senhor Jesus.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

PARA QUEM DESEJA SERVIR

“... lavai os pés uns dos outros.”

Falamos muito em serviço. Mas será que estamos realmente preparados para servir em todas as circunstâncias, a todo momento, nos despindo do orgulho, da vaidade, da auto-suficiência que acalentamos no fundo de nós mesmos?
Parece fácil servir, principalmente se temos em mente atitudes simples de nosso dia-a-dia, que não nos custam esforço ou renúncia. Talvez, justamente aqui esteja nosso erro quando pensamos em serviço: reduzimos o servir a uma ação esporádica, sem efeito duradouro, daí servimos quando podemos, quando sentimos vontade ou quando a situação é gritante e necessariamente temos de agir.
Mas qual seria, então, a maneira correta de servir? A resposta é dada pelo Mestre Jesus. Todo seu ministério é, essencialmente, um exemplo de serviço, percebido na sua encarnação assumindo a forma de homem, nas curas, nos diálogos, nos sermões, na morte, na ressurreição e, de forma sintetizada, no episódio do lava-pés (João 13.1-17).
Nos remontando à cena, imaginemos Jesus, o próprio Deus feito um de nós, deixando seu lugar à mesa, tirando o manto, atando uma toalha na cintura, se abaixando e lavando um a um os pés dos discípulos, que, perplexos, não entendiam ainda o que aquele gesto, próprios dos escravos, significava no ministério de Jesus. Por isso, Pedro, inicialmente, se recusa a ter seus pés lavados pelo Mestre.
A mensagem do texto, tão bem elucidada pelo autor do Quarto Evangelho, é clara: temos que, como cristãos, servir como Cristo serviu, chegando até a lavar os pés uns dos outros (v. 14), se necessário. Mas não é só isso. No lava-pés, Jesus tenta pela última vez fazer com que seus discípulos entendam a verdadeira mensagem do Reino: que “o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir”. Contrariando todas as expectativas da espera de um rei glorioso, um guerreiro sanguinário ou um revolucionário justiceiro, chega um servo, alguém que lava os pés, inclusive daquele que o havia de trair. O servir para Jesus era um ato existencial, estava atado a ele como aquela toalha cingida na cintura, que não foi retirada mesmo depois de se assentar de volta à mesa.
Aprender a servir com Jesus é estar realmente preparado para servir, seguindo o seu exemplo (v. 15), lavando os pés (servindo) até dos nossos inimigos e entendendo que foi para isso que fomos chamados para seu Reino, o único onde todos são servos uns dos outros, até o Rei.
Que o mesmo Deus-Servo nos faça preparados para servir sempre.
“Se bem sabeis estas coisas (servir), bem aventurados sois se as fizerdes” (v. 17).

sexta-feira, 2 de abril de 2010

POR CRISTO VOU ATÉ OS CONFINS DA TERRA

Este foi o tema da Campanha de Missões Mundiais que encerramos, aqui na Sotero, no culto da noite de hoje. É uma declaração corajosa!
Para aqueles que gostam de encarar desafios, ir por Cristo até os confins da Terra é um dos grandes. E por, pelo menos, três razões:
1. É por Cristo até vamos até os confins da Terra. Talvez não seja difícil chegar aos lugares mais longínquos e exóticos do Planeta, principalmente com as facilidades do transporte aéreo e com a exploração do mercado turístico. Há os que vão para muito longe de sua terra natal para estudar, para sobreviver, para passear, para trabalhar. Mas, no exercício da missão não são os nossos interesses que contam como motivação para sair por todos os cantos da Terra. Saímos em missão por causa de Jesus Cristo, nosso Senhor, pois “é por ele e para ele que nos movemos e existimos” (rsrsr). Portanto, não é pela denominação ou pela igreja que saímos em missão. Mas também não é por uma obrigação cristã. Se vamos aos confins do mundo por Cristo, então, o imitaremos em seus passos peregrinos, seus braços que acolhem, suas mãos que curam, seu olhar que revela, sua voz que acalma, suas palavras que consolam, sua alma que se angustia, suas lágrimas companheiras, sua cruz de amor.
2. Sou eu que irei até os confins da Terra. No mundo pós-moderno da terceirização tanto dos bens e serviços quanto das responsabilidades humanas para com o outro e a criação, a missão também se vê nas mãos de terceiros. Os confins da Terra é lugar para os pastores e pastoras, missionários ou qualquer outra pessoa que se sentir tocada pelo clamor das nações. Não é uma responsabilidade minha viver a missão (afinal de contas, já remuneramos os pastores e missionários para isso!). Como é triste perceber que o “deus deste século” ainda continua cegando o entendimento de muitos. A missão deve ser cumprida por mim porque há espaços geográficos e sociais que apenas eu tenho acesso. Se não viver a missão nestes espaços, ninguém mais fará. Além disso, no Reino de Deus todos pegam no arado e saem a semear. Um pastor na China semeia o Evangelho no coração dos chineses, mas é você quem deve semear e testemunhar do Amor de Deus à sua família, seus vizinhos e amigos.
3. É nos confins da Terra que eu devo cumprir minha missão. Alguns são chamados pelo Senhor para anunciar a Salvação em lugares distantes de sua terra natal. Mas para outros, o chamado será para ir a outros confins, não os da Terra, mas os da alma, do coração das pessoas que estão muito próximas. O próprio Jesus orienta: “primeiro em Samaria, depois...”. O objetivo de nossa missão não é apenas levar a Palavra, mas restaurar vidas através da Palavra Viva. Nossa missão é também é chegar aos confins do coração dos homens e mulheres, que, a passos largos nesse mundo mal, se distanciam cada vez mais da cruz de Cristo.
Por Cristo eu vou até os confins da Terra. E você, vai?