quarta-feira, 7 de outubro de 2009

SANTO 12 DE OUTUBRO!

É amanhã, 12 de outubro, o dia tão esperado. As crianças amam tanto essa data quanto o Natal, pela oportunidade de ganhar presentes. Os devotos à Padroeira do Brasil aguardam todo ano pelo dia dedicado à Santa. E os trabalhadores e estudantes já não viam a hora de mais esse feriadão chegar!
Na reflexões teológicas mais críticas aparece sempre como alvo as concepções de sagrado e profano. Definir os limites de cada um desses campos da condição humana é um dilema para bons teólogos. O dia 12 de outubro é uma boa oportunidade para ilustrar tal problemática e para refletir sobre possíveis caminhos a se trilhar.
Sagrado, no imaginário popular-brasileiro-cristão, é a experiência de devoção e peregrinação vivenciada pelos que veneram a Nossa Senhora de Aparecida. Apesar de não concordarmos com manifestações de fé que envolvam idolatria, teremos que admitir que tal experiência é, sim, de fé. Porque a fé, a crença, a devoção a algo ou alguém, pode ser acessada por todos indistintamente. Um problema aqui, seria nossa concepção sobre o que é sagrado ou sobre onde está o sagrado. Para nós, cristãos-protestantes-históricos, sagrado é aquilo que se encontra fora, separado do mundo, porque este, o mundo, é profano, “jaz no maligno”. Assim, o sagrado não pode ser encontrado nas coisas do mundo natural e mal, ele precisa estar no céu, puro, bom e harmonioso. Mas, se o sagrado está no céu, longe do mundo, como posso ter acesso a ele ou ser acessado, tocado por ele? Como Deus, enquanto representante máximo de tudo que é sagrado, pode se relacionar, se comunicar comigo, se eu estou no mundo profano e Ele no santo céu?
Nenhuma resposta a essa pergunta será fácil. Mas é possível sinalizar dois caminhos:
O primeiro é o caminho do deixe como está, dos conceitos prontos que determinam sobre nossas mentes a impossibilidade de outro pensar, outro conceito, outra resposta. Neste caminho do deixe como está não se pergunta sobre a sacralidade do sagrado, ou melhor, sobre a legitimidade da autoridade dos representantes do sagrado. “O templo é sagrado?”, “Somente o pastor e o padre falam pelo sagrado?”, “As ordenanças e os sacramentos são o próprio sagrado?” são perguntas proíbidas aqui.
O segundo caminho é para poucos. Logo no início há uma placa onde se lê: “Só começe esta peregrinação se for homem!”. Porque este caminho é para homens e mulheres se humanizarem. Os que querem se divinizar e adorar à divindade distantante e indiferente, continuem lá no primeiro caminho. Os que estão aqui não precisam ser deuses, porque encontraram a Vida e a Vida os encontrou no meio dos homens, das mulheres, das crianças, dos pobres. Estes peregrinos conseguiram enchergar Deus, o Sagrado, nas flores, nos sorrisos, na dor, na festa, na companhia solidária que divide o pão (Lucas 24.13-32), no amor incondicional que se oferece numa cruz.
Se Jesus é O Caminho, então suspeito que foi ele quem pregou aquela placa.

VOCÊ PRATICA ESSE ESPORTE?

A última sexta, dia 02 de outubro, ficará marcada como o dia em, pela primeira vez, um país da América Latina foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Sediar as Olimpíadas de 2016 não foi uma vitória apenas do Rio de Janeiro. Todos nós, brasileiros, latino-americanos, nações historicamente esfoliadas pelo violento capital do Primeiro Mundo, soltamos mais um grito de esperança, há muito preso na garganta. Parece que estamos diante de mais um daqueles momentos quando a história nos sinaliza razões para crer, lutar e ter esperança. E que bom que tais “sentimentos” (ou posturas de vida, como queiram) não estão patenteados e licenciados apenas ao uso dos religiosos filiados às organizações eclesiásticas ou correntes espiritualistas. Afirmo ser bom tal cenário, porque, sinceramente, acredito que os religiosos, no perfil que se apresentam hoje, não têm capacidade de administrar sentimentos tão genuinamente humanos. Pois todos os religiosos e espiritualistas correm o risco de desumanizar-se, afastar-se da condição humana na mesma proporção em que se aproximam cegamente das “coisas” da religião. Para falar, então, das “coisas” dos homens é necessário ter o coração de homem; sentir, rir, chorar, cair, levantar, desiludir-se, encantar-se, lutar, resisitir, desistir, correr, descansar. E tudo isso é, também, espiritualidade!
Apezar das críticas aos Jogos Olímpicos em seu modelo capitalista moderno, acredito que eles ainda são um bom exemplo das potencialidades humanas, daquilo que podemos produzir juntos, dos limites físicos e ideológicos que podemos superar, além de uma excelente oportunidade para celebrar valores como persisitência, disciplina, cooperação e esperança. O esporte, tanto na prática do baba do campo da Viúva no Bonoco, quanto as competições milionárias nos estádios internacionais, tem o poder de superar as diferenças religiosas e sociais, transformando todos em torcedores.
Não sei se nosso Mestre Jesus foi artileiro do campeonato Palestino, se bateu recordes no nado costas no Mar da Galiléia ou se venceu o Gran Prix da Formúla 1 em Jeruzalém. Mas sobre algo tenho certeza a respeito do meu Senhor: ele foi homem como eu (João 1.14)! Sua espiritualidade não era escrava da religião-vazia-de-amor praticada em seu tempo, nem maquiada por práticas espiritualistas de meditação e auto-ajuda, egoístas e alienadas ao problemas de quem está a sua volta. É nas aves do céu, nas flores do campo, no sorriso das crianças, no acolhimento afetuoso, no arrependimento sincero, nas dores da própria existência, na dignidade restaurada, no perdão genrosamente oferecido a todos e todas que está a espiritualidade do Filho do Deus.
Aos que praticam esportes e a nós, os sedentários, fica o convite: sejamos verdadeirmante espirituais, como espiritual é o nosso Senhor.